Muito bem, cambada! J. Jonah Jameson aqui, e hoje vamos desmascarar uma das maiores farsas do século XXI, uma que está acontecendo bem debaixo do nosso nariz em cada pavilhão de exposição em que ousamos pisar. Estou falando das feiras e eventos, essas megalópoles temporárias de supostas inovações e, outrora, fontes inesgotáveis de… brindes! Sim, você ouviu bem. Lembro-me dos tempos áureos da Feira UD, da Feimafe, e de tantos outros eventos onde você voltava para casa parecendo uma árvore de Natal, cada bolso recheado com canetas, chaveiros, blocos de notas e uma quantidade obscena de bonés e camisetas. Era um paraíso de objetos promocionais, um testamento tangível da generosidade (ou desespero) das empresas em conquistar sua atenção.
A Era de Ouro dos Brindes Gratuitos: Uma Lembrança Distante
Ah, os anos 90 e o início dos 2000! Que tempos gloriosos para o frequentador assíduo de feiras. Era uma verdadeira caça ao tesouro. Chegávamos com sacolas vazias, prontos para enchê-las com qualquer coisa que não estivesse pregada ao chão. Cada estande era uma promessa de um novo item para a sua coleção de quinquilharias promocionais. Não importava se você precisava daquele abridor de garrafas com o logo da Metalúrgica São Jorge, você pegava! Afinal, era grátis!
As empresas, em sua ingenuidade ou talvez excesso de otimismo, acreditavam que a simples distribuição massiva de brindes se traduziria em reconhecimento de marca e, eventualmente, em vendas. Era uma estratégia simples: mais brindes, mais visibilidade, mais negócios. E, de certa forma, funcionava. Quem nunca se lembrou de uma empresa por causa da caneta que usava diariamente ou da mochila que ganhou em um evento?
Os estandes eram verdadeiros bazares. Filas se formavam para pegar o último squeeze ou a caneta mais estilosa. A competição era acirrada, e as empresas se superavam em criatividade (ou no volume de tralhas) para atrair o público. Era um jogo divertido, e o consumidor, claro, era o grande vencedor. Voltávamos para casa com a sensação de termos “ganho” algo, mesmo que fosse apenas um punhado de bugigangas.
O Declínio da Generosidade: Uma Conspiração Digital?
Mas e hoje? Onde foram parar as montanhas de canetas e os rios de bonés? Percorri os corredores das últimas grandes feiras e o que encontrei? Uma paisagem desoladora de estandes minimalistas, telas gigantes e, pasmem, QR Codes! Sim, meus caros, QR Codes para “participar de um sorteio”, “cadastrar-se para receber novidades” ou “baixar nosso e-book”. Onde está a recompensa instantânea, a satisfação tátil de um brinde na mão?
É uma vergonha, eu digo! As empresas, em sua busca incessante por “eficiência” e “dados”, abandonaram o bom e velho brinde. Agora, o novo ouro não é o produto físico, mas sim a sua informação. Eles querem seu nome, seu e-mail, seu telefone. Querem sua alma digital, e em troca, o que oferecem? A promessa de talvez, quem sabe, um dia, ganhar algo em um sorteio que nunca acontece.
Essa mudança não é acidental, acreditem. É uma estratégia fria e calculista. As empresas perceberam que distribuir brindes indiscriminadamente era caro e, talvez, não tão eficaz quanto se pensava. Em vez de torrar dinheiro em milhares de canetas que podem acabar no lixo, eles preferem investir na captação de leads. Eles querem construir um banco de dados de potenciais clientes, pessoas que demonstraram algum interesse ao fornecer suas informações.
Do Plástico ao Pixel: A Tirania do “Lead Qualificado”
Eles chamam isso de “lead qualificado”, e é a nova palavra da moda no mundo do marketing de eventos. Em vez de focar na quantidade de pessoas que visitaram o estande e pegaram um brinde, agora a métrica é a quantidade de cadastros válidos que eles conseguem. É uma mudança de paradigma, do marketing de massa para o marketing direcionado.
E para conseguir esses cadastros, eles usam táticas que variam do sutil ao descarado. Sorteios de gadgets de última geração (que você provavelmente nunca vai ganhar), acesso a conteúdos exclusivos, “consultorias gratuitas” – tudo isso para que você digite seu nome e e-mail em um tablet. É a nova moeda de troca. Sua informação pessoal em troca de uma vaga ilusória em uma lista de e-mails que você provavelmente vai ignorar.
Mas eu lhes digo, essa abordagem tem seus perigos. Onde está a espontaneidade? Onde está a diversão? As feiras estão se tornando ambientes estéreis, focados apenas em coletar dados, sem a alegria e a interação que os brindes proporcionavam. Antigamente, o brinde era o quebra-gelo, o ponto de partida para uma conversa. Agora, a conversa é precedida por um formulário de cadastro.
A Culpa é Nossa, Sim, A Nossa!
E sabe o que é pior? A culpa é um pouco nossa também! Nós, consumidores ávidos por tudo que é “grátis”, fomos condicionados a aceitar essa nova realidade. Nos acostumamos a preencher formulários, a escanear QR Codes, a dar nossas informações sem questionar. Nos tornamos meros pontos de dados em planilhas de marketing, em vez de indivíduos com quem as empresas deveriam tentar construir um relacionamento genuíno.
As empresas argumentarão que essa é a “evolução” do marketing, que é mais “sustentável” (menos plástico descartado, claro) e mais “eficiente”. E talvez, do ponto de vista frio e calculista dos lucros, eles estejam certos. Mas do ponto de vista do espírito da feira, do intercâmbio direto e do prazer de levar algo para casa, nós perdemos algo valioso.
Então, da próxima vez que você for a uma feira e se deparar com um estande sem um único brinde à vista, apenas com a promessa de um sorteio distante, lembre-se do que perdemos. Lembre-se dos tempos em que a generosidade era tangível, e não apenas uma URL para um formulário online. Exija mais! Exija seus brindes!
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