A Sutil Arte de Saborear a Vida: A Jornada de “Samurai Gourmet”

Olá, leitores! Barbara Gordon aqui, e hoje vamos mergulhar em uma obra que, à primeira vista, parece uma simples série de culinária, mas que, na verdade, é um tesouro de referências, filosofia e, acima de tudo, uma celebração da vida em seus pequenos prazeres. Estou falando de “Samurai Gourmet”, a delicada e saborosa série da Netflix que conquistou corações ao redor do mundo.

Se você já se sentou para assistir a essa jornada, provavelmente se viu hipnotizado pela simplicidade e pela profundidade da história de Takeshi Kasumi, um homem que, após a aposentadoria, redescobre o mundo através da comida e da companhia de um samurai imaginário. Mas, como toda grande obra, “Samurai Gourmet” tem raízes profundas em um universo ainda maior: o dos mangás.

A Origem Impressa: O Mangá que Deu Vida a um Samurai

A primeira e mais óbvia referência, e a espinha dorsal de toda a série, é o mangá “Nobushi no Gourmet” (Samurai Gourmet), escrito por Masayuki Kusumi e ilustrado por Shigeru Tsuchiyama. E aqui, é crucial fazer uma pausa para entender a genialidade por trás da dupla.

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Masayuki Kusumi é uma lenda discreta, um arquiteto de narrativas que transformam o cotidiano em poesia. Se o nome soa familiar, é porque ele é também o autor de “Kodoku no Gourmet” (The Lonely Gourmet), outra obra-prima que deu origem a uma série de TV de sucesso no Japão. Ambas as obras compartilham uma premissa semelhante: a jornada de um homem solitário que encontra significado e satisfação em suas refeições. No entanto, “Nobushi no Gourmet” se diferencia pela presença do “alter ego” de Takeshi, o samurai errante, que surge para dar a ele a coragem de quebrar a rotina e experimentar coisas novas.

O mangá, lançado originalmente na revista “Bungeishunju”, é um exercício de observação e introspecção. Cada capítulo é uma pequena crônica de uma refeição, acompanhada dos pensamentos de Takeshi e da intervenção de seu samurai interior. A arte de Shigeru Tsuchiyama é simples, mas expressiva, capturando a essência de cada prato e a emoção do protagonista. A série da Netflix, de forma magistral, traduziu essa estética para a tela, mantendo a narrativa episódica e a atmosfera contemplativa.

A Conexão com Outras Obras e Tendências

A beleza de “Samurai Gourmet” não reside apenas em sua fonte primária, mas em sua capacidade de dialogar com outras obras e tendências do universo geek. Pense, por exemplo, na popularidade crescente dos “slice of life” (fatia da vida) no Japão. Obras como “Yotsuba&!” ou “A Viagem de Chihiro” (embora este seja um caso de fantasia, a observação do cotidiano e a busca pela beleza nas pequenas coisas é um tema recorrente) mostram a força de histórias que se concentram na vida comum, sem grandes reviravoltas ou batalhas épicas. “Samurai Gourmet” é a personificação dessa tendência para o público adulto, provando que a aventura mais emocionante pode ser a de encontrar o ramen perfeito.

A viagem de Chihiro

Além disso, a figura do samurai na obra não é a do guerreiro de honra e combate que vemos em “Vagabond” ou “Samurai Champloo”. É um samurai mais alinhado com o espírito de obras como “O Fantasma do Samurai”, de Akira Kurosawa, onde a bravura é demonstrada em atos de bondade, e a sabedoria é mais valorizada do que a espada. O samurai de Takeshi é um símbolo da sua própria coragem, da sua vontade de sair da zona de conforto e de sua busca por um propósito na vida pós-carreira.

A forma como a série aborda a comida também ecoa a filosofia de mangás como “Otsumami” de Jiro Taniguchi, onde o foco está no prazer simples e na celebração dos sabores. É uma visão da culinária que vai além da alta gastronomia e se concentra no que é acessível e reconfortante. Cada prato, seja uma tigela de lámen, um bento ou um simples okonomiyaki, é tratado com reverência, como se fosse uma obra de arte única.

O Legado de um Samurau e Um Convite à Contemplação

“Samurai Gourmet” é mais do que uma série de culinária. É um convite à contemplação, uma ode à maturidade e um lembrete de que a vida, mesmo após a aposentadoria, pode ser cheia de descobertas e de pequenos prazeres. A jornada de Takeshi Kasumi, inspirada no mangá de Masayuki Kusumi, nos mostra que a coragem não é apenas para grandes batalhas, mas para coisas tão simples quanto pedir uma cerveja gelada no meio da tarde ou experimentar um prato que nunca se comeu antes.

A obra, tanto em sua forma impressa quanto na série da Netflix, nos ensina a olhar para o mundo com os olhos de uma criança e a saborear cada momento como se fosse o último. É uma lição valiosa em um mundo que nos empurra para a pressa e a busca incessante por algo grandioso. A grande beleza de “Samurai Gourmet” é que a grandiosidade está ali, escondida em um prato fumegante, em uma cerveja gelada ou na simples companhia de um samurai que vive dentro de nós.

Ex-Batgirl, agora Oracle, Barbara trocou o salto pelas teclas e se tornou a mente mais afiada do multiverso quando o assunto é informação. Devoradora de livros, HQs e mangás, ela conhece cada edição rara e origem secreta.